domingo, 21 de junho de 2009

EUTANÁSIA - UM DIREITO?

EUTANÁSIA

EM CASOS ESPECIAIS IRREVERSÍVEIS
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Por Luciano do Vale

Antigamente detestava este assunto, achava-o desagradável, que era problema dos doentes terminais e seus familiares. Mas agora, repensando a questão, me sito muito arrependido, primeiro porque pela compaixão o tema merece a devida atenção, e segundo, pelo simples fato de poder ser a qualquer momento também um doente terminal. Definindo tal atitude no passado, não há palavras que a caracterize melhor que estas três: UM GRANDE EGOÍSTA.

Nas fazendas, zoológicos e clínicas veterinárias é comum o sacrifício de animais feridos ou doentes irreversivelmente. Motivados pela compaixão, põe fim à vida para cessar o sofrimento. Os proprietários, por mais que os ame, concordam e muitos até pagam alguém capaz de fazê-lo. Em seres humanos, devido à semelhança com o assassinato, o tema ganha proporções gigantescas. Entretanto, devido à enorme relevância da matéria, analiso aqui, somente casos irreversíveis com sofrimento ao ápice, aos quais concordo plenamente, diante da vontade do doente, com uma ação (eutanásia) a fim de proporcionar alívio imediato. Nesses casos especiais, o amor assume papel predominante. Um clássico disso foi o de uma mãe americana que desligou o tubo de oxigênio de sua filha. A garota tinha câncer avançado e já não respondia mais à morfina, vivenciando profunda dor, angústia e depressão, pois permanecia lúcida durante várias horas diárias. Seu quadro foi assim descrito pelos médicos e psicólogos que a acompanhavam:

“Fisicamente, a paciente representa a dor em estado bruto, pois se transformou em ícone desse sentimento, os nervos de seu corpo só se contraem em resposta ao que é, sua boca só pronuncia o que sente, seus ouvidos só ouvem o que de sua boca sai e seu olfato só capta o que seus poros expelem em resposta ao que sente. Psicologicamente, é um caso clássico do cume da ruína humana.”

Sob o ângulo religioso, ouso discordar daqueles que alegam violação ao mandamento “não matarás”, visto que não se trata propriamente de assassinato, porque como disse antes, o que analiso aqui são casos irreversíveis, onde a decisão primordial básica e única é morrer agora ou morrer com antecedência de longos períodos de sofrimento abominável. Também não me refiro às pessoas em coma, que nada sentem. No velho oeste americano, era comum nos enforcamentos, os familiares dos condenados se dependurarem ao seu corpo com a finalidade de encurtar o tempo da angústia, pois não havia mais a possibilidade de salvar suas vidas. Não seria esse ato compaixão?. Atitudes assim eram praticadas pelos parentes mais próximos e jamais foi tida como uma participação efetiva da família no enforcamento. Há também o caso de judeus submersos até o pescoço em água gelada por nazistas, cobaias em estudos sobre morte por hipotermia, sendo mortos a tiros por um amigo. Em certa viagem que fiz, me deparei com dois bois que foram atropelados, os animais quebraram todas as patas e ossos ficaram expostos, todos olhavam angustiados tais sofrimentos. Por decisão geral dos ali presentes, dei dois tiros em cada animal para aliviá-los da dor (jamais o faria se os animais estivessem bem). Diante do exposto extraí as seguintes questões: a) se temos compaixão por animais não deveríamos ter com humanos em idêntica situação? b) se concordamos que a vida de um animal não vale à pena quando só resta sofrimento, a de um ser humano vale?. c) se junto a um animal estiver um ser humano em mesmo grau de sofrimento, ao animal daremos o golpe de misericórdia e o humano entregaremos à própria sorte?. Afim de melhor decidir, nos imaginar em situação com possibilidade de morte imediata ou precedida de longos períodos de dores alucinantes, é o melhor: Se nos amarrassem à uma máquina especial projetada pra matar, e nos der um revólver, e essa máquina começar seu trabalho lentamente, primeiro extraindo uma unha, depois a outra, depois um dedo, depois outro, depois um pé, depois outro (promovendo dores idênticas as provocadas por certos tipos de enfermidades), o que faríamos com a arma em nossas mãos? No meu caso lhes respondo agora: Não sou capaz de matar alguém nem de suicidar, mas diante desse quadro daria um tiro em mim antes que fosse tirada A ÚLTIMA MÃO, e se pudesse, atiraria nas pessoas que na mesma situação que eu, não tivessem uma arma e assim desejassem. Não o faria com a intenção de privá-las de suas vidas, descaracterizando por completo violação ao mandamento "Não matarás", pois movido por compaixão e não ódio.

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