quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A TRANSFUSÃO DE SANGUE PROIBIDA

Há um tema em particular que devido sua peculiaridade merece maiores explanações esclarecedoras: a transfusão de sangue proibida por algumas instituições religiosas. Ressalvo que, havendo tratamento alternativo, não só religiosos como também qualquer cidadão tem o direito de optar por ele, o que não implica dizer que haja qualquer razão na interpretação bíblica do versículo abaixo. A questão dos riscos à saúde existentes numa transfusão também não é levada em conta aqui, mas tão somente preferir a morte se esta depender de uma simples transfusão de sangue. Vejamos o versículo ao qual esta doutrina se baseia:

"Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá." (Atos 15:28,29)

Para os que afirmam que inserir sangue pelas veias é o mesmo que bebê-lo pela boca, existem algumas observações que ao final deste capítulo ganhará maior sentido, vejamos: enquanto a transfusão promove a vida, o canibalismo promove a morte; enquanto na transfusão existe amor, no canibalismo existe ódio; enquanto a transfusão produz felicidade o canibalismo produz sofrimento. Enquanto na transfusão o receptor não se alimenta pela boca apreciando o que fora retirado do doador sem nenhum arranhão, no canibalismo o agente alimenta-se pela boca apreciando o que fora retirado de sua vítima matando-a. Enquanto na transfusão o doador concorda plenamente com o desejo do receptor, no canibalismo a vítima discorda plenamente do agressor. Aceitar que Deus proíbe matar e concorda deixar morrer como num ritual satânico é atribuir a ele ensinamentos que só do inferno podem sair:

“Sucedeu, pois, que, acabando o SENHOR de dizer a Jó aquelas palavras, o SENHOR disse a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti, e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó. Tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei, para que eu vos não trate conforme a vossa loucura, porque vós não falastes de mim o que era reto como o meu servo Jó”. (Jó, 42:7, 8 e 9).

Em se tratando de casos onde a morte ou riscos à saúde só podem ser evitados com a transfusão, tal procedimento deve ser aplicado e assim o amor vencer o erro, o racional vencer o irracional e a vida vencer a morte. A doutrina “se depender de sangue morra” é totalmente incompatível com o Cristianismo e quem a pratica comete assassinato, pois que diferença há entre seguidores do Pastor Jim Jones que mataram seus filhos usando cianureto de seguidores da doutrina “se depender de sangue morra” que deixam seus filhos morrerem por falta de uma transfusão?.

Qualquer doutrinador que violar os mandamentos bíblicos e os ensinar aos homens será o menor no reino dos céus:

"Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus." (Mateus 5:19)

Todo aquele que ensinar aos homens doutrinas contrárias à vida torna-se culpado de cada morte que ocorrer. Deus mudou suas leis do VT para o NT mas não dentro do NT, se para Deus uma coisa não pode hoje não poderá amanhã, mas conforme mostrarei abaixo, mudam de idéia dando a entender que Deus mudara sua lei. Um número incalculável de óbitos já foi registrado em razão de proibições dessa natureza. O transplante de órgãos foi proibido até 1989; depois dessa data, foi liberado. Antes, era pecado e classificado como canibalismo. Agora, o “canal de Deus” está convicto de que não é da vontade de Deus que pessoas morram por falta de um coração ou um rim. De igual modo, até 1952 as Testemunhas que recebessem qualquer tipo de vacina (contra febre amarela, por exemplo) se colocava contra a vontade de Jeová e estava sujeita à desassociação (A Sentinela, de 12.10.1921, p.122). Em 1952, a vacinação foi liberada. Agora, os seguidores do “se depender de sangue morra” podem ser vacinados e isto não é mais contra a vontade de Jeová (A Sentinela, de 15.12.1952). Os que morreram por falta de vacinas antes da liberação foram enganados? Claro que sim, por isso sou a favor da responsabilização criminal de todos os que induzem, religiosamente, outros a praticarem atos que resultem danos a si mesmos ou a terceiros, principalmente quando o que se perde é a vida. Voltar atrás não implica afirmar que Deus permitiu agora o que não permitia antes e sim que erraram na intepretação. É chegada a hora do poder judiciário intervir em casos que envolvam religiosos que se escondem por trás de interpretações bíblicas ilógicas e desprovidas de razão, e responsabilizá-los criminalmente pelos resultados de suas ações, haja vista que líderes religiosos não estabelecem regras a uma classe de pessoas livres em suas convicções e sim dominadas pela ilusão de que é o próprio Deus que está a se pronunciar. Erros são humanos, e assim como médicos erram e são responsabilizados, igualmente devem ser também os religiosos. A garantia constitucional quanto ao livre exercício de qualquer crença religiosa deve ser vista com temperamentos, pois a vida está acima dela. A não intervenção, ainda, dos Poderes Públicos no raio de ação desta liberdade do exercício da religiosidade é justamente o que deixa imune esta classe, ainda favorecida pela impunidade de seus atos. Permitir que uma classe de pessoas permaneça indefinidamente imune a qualquer tipo de responsabilização é permitir a desigualdade. Em razão da intransigente decisão antibíblica dos seguidores da doutrina do “se depender de sangue morra”, o Conselho Federal de Medicina, em sua Resolução CEM 1.021/1980, adotou a seguinte posição com relação às crianças: “Se houver iminente perigo de vida, o Médico, obedecendo ao seu Código de Ética Médica, praticará a transfusão de sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus responsáveis”. Portanto, com relação às crianças o médico pode salvá-las da morte, cuja perda de vida é satanicamente aceita por seus pais quando são seguidores de religiões contrárias a transfusão em toda em qualquer hipótese, e magistrados têm emitido mandados em situações de iminente risco de vida para crianças, propiciando intervenção policial para que a transfusão se realize. O que é uma decisão absolutamente acertada. Considerando-se que a vida é o bem maior, e que o Código de Ética Médica, no seu Artigo 46 diz que “É vedado ao médico efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente risco de vida”, os médicos podem agir de forma independente em casos de iminente risco de vida, até mesmo em se tratando de adultos que desejem morrer em nome da “obediência a Jeová”. A Medicina foi criada em favor da vida; mas alguns criam doutrinas em favor da morte. Onde está a razão para crer que uma mãe movida pelo mais sublime amor ao seu filho ferido, ao autorizar uma transfusão considerada imprescindível, algum erro comete diante de Deus? Deus a puniria? Nunca, é absolutamente insano crer que sim, pois se creres nisto crês na verdade é que em Deus existam características de satanás e isso é inaceitável. Suponhamos o seguinte caso: o irmão de um amigo fere-se gravemente necessitando de urgente transfusão de sangue. Este amigo sabendo que o meu sangue é compatível, me liga (movido pelo amor ao irmão). Ao me relatar o ocorrido eu me coloco prontamente a disposição para salvá-lo (movido por amor ao ferido). O médico responsável é tio do acidentado e ao ser chamado as 3:00 horas da manhã imediatamente dirige-se ao hospital para socorrê-lo (movido por amor ao sobrinho). O acidentado é menor de idade e necessita de autorização que é concedida pelo pai (movido por amor ao filho). Como pode alguém acreditar que tantas pessoas movidas exclusivamente por amor ao próximo possam estar violando algum preceito bíblico, sendo que o próprio Jesus ao introduzir no NT mandamentos do VT, ressalvou que se há algum outro mandamento não mencionado devemos deixar o amor ao próximo prevalecer?

"Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." (Romanos 13 : 9)

Esta parte “e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” é extremamente esclarecedora, pois Jesus resumiu sua lei em amor ao próximo, o que significa dizer que nenhum ato de amor será por Jesus condenado, muito menos quem age movido por amor a vida do próximo.

Quando lemos um livro, as características de algum personagem é construída em nossas mentes. Lendo e relendo os evangelhos, ao me deparar com as passagens de Jesus, e observando atentamente seus atos, suas intervenções, conselhos, sabedoria e curas, em minha mente foram bem definidas as características de sua personalidade, as quais passo a descrever: Ser supremo dotado de poderes sobrenaturais, sabedoria inimaginável e inatingível a nós humanos, eis que conhece céu e inferno, passado, presente e futuro, vida além morte, de onde e como surge a vida. Faz parte da Santíssima Trindade. Conhece o reino do mal, seu líder e seguidores. Conhece anjos, arcanjos, querubins, Deus e as leis que compõem o universo. Vê na vida um bem precioso e a felicidade uma bênção. Tem poder sobre a morte e a vida, e a esta, ama de tal maneira que deu a sua pela nossa. Para mim é impossível imaginar Jesus orientando um médico a não realizar uma transfusão de sangue insubstituível por outro método, e deixar uma pessoa morrer. Jesus não ensinou atitudes que conduzam à morte e sim à vida, tanto física como espiritualmente.

Ninguém tem o direito de exigir de outro que este cometa algum crime, e o crime que se aplica ao médico que deixa de proceder à necessária transfusão de sangue a quem está a beira da morte, é o de omissão de socorro, descrito em nosso Código Penal Brasileiro no Art. 135 – “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública.” A lei pune a simples omissão, independentemente de qualquer resultado, com detenção de 01 a 06 meses ou multa; se, no entanto, em razão da omissão, ocorrer lesão corporal grave, a pena é aumentada de metade, e é triplicada, se resultar a morte da vítima. O sujeito ativo de tal delito é aquele que tem o dever de prestar assistência e no caso de transfusão de sangue, é o médico. De onde uma pessoa que crê na doutrina “se depender de sangue morra” pode achar que tem o direito de exigir que o médico cometa um crime? Se o médico assim o fizer estará quebrando o juramento que fez de defender a vida e se tornando um criminoso, sujeitando a sanções que vão de prisão à perda do diploma.

Aos que ainda discordam, afirmo que se houvesse para mim alguma dúvida (que não há) ainda assim preferiria ser contrário a um entendimento que pela lógica e melhor inteligência não existe na bíblia, do que violar um expressamente mencionado por ela: “não matarás”. Se eu estiver errado meu castigo será infinitamente menor, eis que o resultado de meu erro é salvar, mas para os que procedem o contrário, se estiverem errados, o resultado é matar. Mil vezes melhor errar salvando do que errar matando.

Quanto aos versículos que afirmam não podermos fazer uso do sangue, vejam:

"A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis." (Gênesis 9:4)

"Estatuto perpétuo é pelas vossas gerações, em todas as vossas habitações: nenhuma gordura nem sangue algum comereis." (Levítico 3:17)

"Toda a pessoa que comer algum sangue, aquela pessoa será extirpada do seu povo." (Levítico 7:27)

A problemática questão que envolve debates se a bíblia está ou não a afirmar que se trata de sangue humano não me parece ser o foco. Também me parece fugir a raia a questão de se tratar do sangue com sua vida, ou seja, aquele em que a transfusão não seria o caso por não haver morte alguma. Partiremos levando em conta que a bíblia menciona sangue humano e que não devemos usá-lo como alimento. Em sendo assim, concordo com a afirmação que inserir sangue pelas veias é introduzi-lo em nosso organismo igualmente se ingerido pela boca. Entretanto, a questão não se resolve sob esta análise e sim dos motivos pelos quais procedemos desta forma. A bíblia determina que não devemos usar sangue humano igualmente determina que não devemos matar. Isto não quer dizer que seremos castigados por Deus se matarmos em todas e quaisquer circunstâncias. Não me parece lógico e muito menos sensato acreditar que Deus punirá o policial que matou o assassino que ia matar sua família. Não me parece racional crer que Deus te punirá porque matou o estuprador que atacava sua filha. Matar quase todos somos capazes em defesa da própria vida, de quem amamos e até mesmo de alguém que nem conhecemos. Como poderia ser capaz de matar alguém pra salvar minha filha e não ser capaz de usar apenas um pouco de sangue desta mesma pessoa para manter a vida de minha filha, sem nenhum arranhão causar ao doador? Absurda e inaceitável é a afirmação de que Deus preferente que morramos se não houver outra forma de salvar a vida senão por transfusão de sangue, pois Deus mil vezes mais prefere que usemos o sangue sem ferir para salvar do que ferir matando para salvar. Não devemos matar, mas para salvar vidas Deus não punirá se matarmos. Devemos nos abster de sangue, mas para salvar vidas Deus não punirá seu uso. Para os que discordam alegando que em todas as hipóteses de violação de mandamentos bíblicos há condenação, respondam-me:

1)Todos os policiais que mataram pra salvar vidas estão condenados ao inferno porque violaram o mandamento “não matarás”?
2)Todos os pais que se depararam com bandidos dentro de suas casas e em defesa de suas famílias mataram o agressor estão condenados?
3)Todos os soldados que mataram alemães na 2ª guerra mundial para interromper o extermínio estão condenados?

Se houvesse a possibilidade de que todas estas mortes pudessem ser salvas mediante transfusões de sangue, Deus um bilhão de vezes preferiria assim, pois em vez de haver milhões de mutilados, decapitados, fuzilados e enforcados ocasionando dores e destruições incalculáveis, não haveria sequer um arranhão, sequer uma dor, sequer uma perda, sequer um órfão, sequer uma lágrima.

A crença não se sobrepõe a vida, caso assim fosse, estaríamos em contradição ao não respeitar os direitos dos homens-bomba em nome de Alá.

São hipócritas quando aceitam transplantes e negam transfusões, pois aceitam corações (carne também é proibida) em razão da morte certa à recusa e mantém a proibição do sangue porque há tratamento alternativo (não em todos os casos) justificando-se apenas nas poucas chances existentes de se salvar, o que não é o bastante.

Se tiver lido esta matéria, negar-lhe razão e decidir matar deixando morrer faça-o bem distante da bíblia sagrada e não use jamais a palavra de Deus para justificar o que somente agrada a satanás e sua legião.

Para os que causaram mortes onde o sangue era insubstituível por outro método, e que por este fato se deu o óbito, és UM ASSASSINO, pois acreditar que não é não mudará a verdade como um estuprador não deixará de ser estuprador porque acredita que não é.

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